6.28.2005

odio

O ópio já não me aquece a alma,
Não me bastas,
Minto-te.

Sou indigno, impróprio, e efervescente.
Se me abraçam, ganho urticária.

Um elogia soa-me a falsa lisonja e
Tenho ódio a quem me quer.

Menti-te.
Não me abandones: converte-me.
Falta-me religião e fé.
E tenho pena de mim.

Ensina-me um mantra,
Localiza-me os chackras,
Faz circular o meu chi,
Acende uma vela.

Ou, então, se é mais fácil:
Dá-me porrada, chama-me nomes.
Beija-me, seduz. Faz-me sofrer.

Há algo em mim que é podre,
há algo de vilania nesse teu olá, e
Sabes-me bem assim ausente.

deixa-te estar, não sei que quero.
Se me chegas ou me ocupas, Se me distrais das minhas culpas, Se és homem ou mulher.

Mas é desse gelo que eu preciso para acalmar esta febre, e o teu ácido limpa-me as feridas e arranha o pus. Deixa-te estar. Sou indecisão, e enquanto me adio, anestesias-me da dor de ser.

Tu dás-me sede.


(a continuar)

6.24.2005

vertigo

Aconteceu.
Aconteceu.
Ele beijou-me.
Eu beijei-o.
Beijamo-nos.
Aconteceu.
Aconteceu.
Não percebo o que se passou, embora desespero comum possa ser uma alínea no campo das hipoteses.
Ele é louro, odeio louros.
É cabrão, faz sentido.
E beija bem, muito bem!
Aconteceu.
O que é que eu faço?
O que é que eu faço?
O que é que eu faço?
Não faço, não ligo, não reago, ele não liga nem reaga, quando nos encontrar-mos fazemos do acaso uma rotina: ça vá? oui, trés bien...
e nunca aconteceu... mas ele beija tão bem!
Não se evitou (poder-se-ia?), antecipou-se, eu sabia-lo, ele sabia-lo e ...
O que é que eu faço?
o que é que eu faço?
Nada, deixa-te estar.
Há outros beijos. (E ele é louro!)

6.23.2005

café

dêem-me um período fácil daqueles que sei fazer a dormir para começar o dia.
Liguem-me a intra-venosa para a cafeína e a muscular para a nicotina.
Não me perguntem constantemente inutilidades que uma consulta rápida à internet poderia evitar.
Lembrem-se de mim pelas 11 da manhã. Sinto-me abandonado por essa hora, parece que antecipo o dia que sobra 8e não é bom).
Se fungar tragam-me lenços de papel e um copo de água.
Se passar pelos rostos rostos um bocejo, dêem mais café.
Acendam-me um cigarro.
À hora do almoço cortejem-me o cérebro com uma hérculea tarefa que só eu possa deslindar.
Aluguem-me um coq, vou andar de cavalo.
eu gosto de pessoa, não fumo ópio e sei tão pouco.
(tornem-me imprescindível.)

eu compreendo.

Não me dês karma.
Não faças dramas.
Deixa-te estar aí sentada se quiseres, não me incomodas.
Não me ofereças nada, eu sei onde estão as coisas de que posso precisar.
Não sei é do que preciso. Sou impreciso, incoerente, indefenido e não podes gostar de um amigo assim. Concluo forçosamente que não queres um anigo.
Se o quisesses davas-te ao trabalho de me analisar, de escolher melhor.
Estás sozinha, eu compreendo.
Agora ouve: isso não basta.
Faço-te rir? é porque precisas.
Entedias-me? É porque não me chegas.
Não faças dramas, vamos dormir.
Uso o sofá.

6.16.2005

carta de adeus do mau amante

Desconheçe-te se quiseres o vazio,
inútil caminho fácil e transcorrido.
Ignora cada desejo e intuição e perde-te.

Mas não me procures, não me chateis.
Não me venhas pedir colo,
Eu não te seguro pela mão,
Não tenho mãos inteiras.

Retira bruscamente a tua cabeça do meu ombro:
Não te suporto o peso.
Não te percebes: não me és nada!
Usei-te numa ocasião tão só em que

Precisava do peso de umas pernas á volta do pescoço.
Não me enforques.
O fio da lâmina que percorro

Em equilibrio não segura os teus pés.

Arranja o teu próprio mapa, eu não tenho rota.
O caminho que percorro tem

agruras, tem rasteiras, sombras e espinhos.
E eu gosto dele assim.

Nunca gostei de coisas fáceis. tu és fácil.
Sai-me da frente:
És suave, terna e doce e

Corro o risco de me fazeres feliz.

Sai-me da frente.
Queres-me bem.
Já tens traçados planos e

votos que eu não sei cumprir.
Eu sei que é boa e respeitável,

Odeio isso: és hedionda.

Não me respeites,
Não me seduzas,
Não me atraias, eu não te sirvo!

Eu não procuro, eu não conquisto, eu não te quero.
Corres o risco de me amar:

Não funcionas.

Espera, não!
Sai-me da frente:

Tu és Melhor.

carvao

Mas não me toquem, porque eu fervo,
Não me toquem, porque eu queimo.
Este calor não é saudável,
Não faço bem a ninguém.
De mim só se aproximam os
Loucos e desalmados;
Hereges e possuidos;
Vazios desencarnados;
Profetas e sem-abrigo,
Os suicidas.

Não sou caridade,
eu não sou pura bondade;
não faço bem a ninguém.

Eu fervo.
Eu fervo.

Deixem-me só.
Despejem sobre mim uma
bacia de urina fria e
Deixem-me a maçerar.
Que eu cozinhe a lume lento.
Que eu nem sirvo para encher buracos.

Porque não sou primeira escolha,
Nem reserva, nem decisão.

Sou o que resta, quando do forno se tira o pão.
Sou a cinza que já não coze mas queima.
Sou calor que não te mata mas mói.

Eu fervo!
Eu fervo!
Eu sou carvão.

ontem

Disseste-me: vamos devagar!
e era tarde demais.

Chegaste ao pé de mim
com teu ar tímido mas arrojado,
beijaste-me o pescoço e reclamaste propriedade:
"minha vampira".
era tarde demais!

Confessaste desejos antigos.
Eram banais; volúpias e ócios, eram comuns.
E era tarde demais.

Cruzei-me contigo há meia vida, não te vi
E agora, ontem, apareces, reconheces-me,
E sendo tarde, temos tempo.

Temos tempo para a doçura, para o amargo, para a perda.

Vem, vem quebrar-me o coração uma outra vez...
Estou perdida: reencontra-me.

Antes que amanhã seja tarde demais.

15.06.2005 já muito tarde

gasolina

please, let me be
all alone in this corner of mine
soaked in gasoline.
waiting for love
i'm on fire!

baby, can't you see
waiting by the tree
for wind and earth,
for thee.
i'm on fire!

and you, my independent you,
you want me adult,
you want me secure,
you want me free.

and I just want to burn!

6.02.2005

Pesa-me a lei do decoro
que não te transmita
tudo o que tenho a dizer:
a lista de deves e haveres
que entre nós há a saldar.
Não se me impôe estratégia
Desconheço o método de falar.
Sei violar as palavras
como se as soubesse usar.
Eu só sabia falar de amor,
de angústia de tristeza e de euforia.
Não faço rimas com alegria.
Sou escritor pobre, incoerente.
E de pecado, congeminação e dúvida,
se investem as minhas noites.
E de vazio as manhãs.
Enceto contra a loucura
uma batalha que temo inglória.
Estou perdido na minha sombra.
E não amo já se mão aquela presença
que se queda, se deixa estar.
Qual sombra ou aroma fugidio.
Não guardo energias para o amor.

há uma hora para ser feliz

Vai haver felicidade. Quando chegar a hora de ser feliz, eu hei-de me lembrar de o fazer, de pegar na minha vida e fazer-lhe uma bela festa de despedida. Hei-de te enfiar uma carta de amor pela goela abaixo com que te engasgues. Hei-de te oferecer o meu amor já feito numa bomba relógio. E hás-de ser feliz comigo quando a hora soar, quando a hora chegar. Alguém estará na torre da igreja a soar os sinos. Alguém assoprará as nuvens para que não tapem o sol. Alguém repousará nos meus braços quando eu morrer. Será um anjo ou serás tu mas então terá chegado a hora de ser feliz.