4.19.2005

Maria

Maria era claustrofóbica.
Não gostava de verde,
não andava de autocarro.
amarelo é igual a verde, dizia Maria.

Você não gosta de mim,
dizia Maria, não gosta de
mim assim como eu,
tanto como eu gosto
- dizia Maria - de mim.

Prédios novos fazem alergia a Maria.
O pó que não ganharam
Empaturra-me os poros.
Maria dizia.
Porque Maria era claustrofóbica,
respirava muito.
respirava e falava.
Muito, muito.
Blá,blá,blá, dizia J...
E Maria falava.

Respirava-lhe umas palavras sedosas:
Não me ouvirás uma interrogação de ciúmes.
Uma sequer.
Nem todo o perfume,
nem todo o batôn
em seu colarinho
me fará franzir sobrolho.
Maria dizia.

Confiança ela chamava à sua mentira.
Mentirinha amarela.
Te voglio bene.
parece simples.
Verde da inveja da calma
de J. a calma de J...
E Maria respirava.
Nem que me enganes(Não me engana)
Confio em ocê(Confio em J.)

Depois de não apanhar o autocarro,
para chegar ao prédio não-novo,
Maria debatia-se com a sua almofada.

Chorava, se desunhava de raiva,
de azúl ciúme.
Se rebolava, e via novela
na caixinha luminosa que J.
lhe tinha dado no dia
depois do rosa-chama
no ombro direito da camisa
de ponto Oxford azul-céu.

Bebeu seu chá de
Tília-acalma-nervos,
Maria dizia,
no serviço china que J.
havia dado no dia seguinte
à essência mal cheirosa
daquela secretáriazinha dele,
Sim, cheirinho igual.
Maria sabia...

Mas olha só, J..
Maria não tem ciúme,
Maria dizia, Maria mentia.
Antes assim.
Senão era simples demais,
para Maria ser Claustrofóbica,
tem que ter razão melhor
do que eléctrico de Lisboa
ter ar condicionado
e ser amarelo.

Maria Dizia, Maria mentia.