3.29.2005

A neurose - Parte II

Conheceram-se na faculdade, estudaram juntos, namoraram, juntaram-se. Não quer casar, ele pede-lhe numa base diária, ela não quer. Porque, ela sabe bem, só ela sabe bem, há algo errado com eles! Por isso decidiu-se a trazer de volta a paixão à sua vida, mas como não consegue imaginar-se ao lado de outro homem que não seja o Miguel, decidiu-se a mudá-lo.
Já o consegue visualizar. Aproxima-se da porta, segura na maçaneta, fica parada. Não reage.
Olha para ele. Percebe que ele assume uma pequena postura de pânico, subtil, discreta.
Apenas o entende porque já o conhece. Sim, já o conhece, aprendeu a ler os seus contornos. “Que tempo desperdiçado, que pena, que ousadia a tua deixares que me vá embora”.
Um olhar, não dizem nada, não há coragem. Ela detém-se, só para confirmar, sim. Acabou.
Vai-se embora. É o fim. E assim será, um destes dias. Sem bilhete, sem mensagem.
Apenas olhos nos olhos que é para ele poder dizer (mais uma vez) que a ama, que quer perdão (por ser quem é?), que a perdoa, e ela voltar para os seus braços, nua, envolta em dúvida e frio e resquícios de amor.