3.29.2005

a ironia - parte I

Agora confronta-se com o horror alheio do pedido de ajuda. É quase com pavor que recebem os seus pedidos de carinho.
Começa a ter a certeza de que quando se confronta alguém com uma necessidade emotiva, as pessoas assustam-se. É preciso ser-se muito amigo para querer aturar um estado depressivo, não uma depressão, porque essas, quem já passou por uma sabe, ninguém tem arcaboiço para acompanhar. Um estado de “quero mimos, podes vir ter comigo hoje?” se não envolver a oferta de uma bebida ou uma promessa menos velada de sexo, ninguém acode.
Crêem certamente que ela pretende algo mais do que esse mimo. Uma promessa de futuro. Enganam-se. O seu futuro risonho é imediato.
Por ser míope, talvez, criou nela mim um mecanismo que a impede de “ver” além de 6 meses. Por vezes olha para trás e surpreende-se para não dizer que se assusta com o tempo que se passou. “Vai fazer cinco anos que andamos nisto.”
É capaz de confessar, como já me fez a mim, que quando o conheceu pensou que quanto muito aguentaria um verão, que bom que era. Sair de uma relação morosa e pouco dolorosa mas muito problemática e fazer um Spa com um gajo altamente atraente e estimulante. O estimulante deu aso ao excitante, o altamente atraente trazia outras chatices de rabos de saia, e não, o estimulante não abarcou o intelectual. E nisto, passou o dito verão, veio o vício e, agora, deixa-lo?
Não consegue. Sempre que ele lhe foge da mão, parece que desidrata, dá-lhe uma sede. Percorre Lisboa à sua procura, gera os chamados encontros casuais, telefona-me, telefona-lhe, deixa mensagem, arrepende-se, entristece-se. E entristece-me.
Não sei vê-la assim, não sei o que lhe dizer.
Mas o que me verdadeiramente incomoda é que nunca se enfureça. Tem uma ânsia enorme de se enfurecer, de rebentar pelas costuras, só assim, talvez só assim, o faça morrer dentro dela. Mas ele dá-lhe sede.

1 Comments:

Blogger amnia said...

no ano seguinte, gostaria de te poder dizer que a sede passou.

6:25 da tarde  

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